Moradores do bairro Estâncias Imperiais, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, enfrentam grandes desafios devido à construção do Rodoanel. Mesmo sem licença para a instalação do empreendimento, eles já percebem os efeitos da obra, conforme constatado por uma visita técnica da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
O projeto do Rodoanel planeja uma malha rodoviária de 100 km, ligando 11 cidades da RMBH. A princípio, a rodovia passaria pelo Bairro Nascentes Imperiais, mas houve uma mudança no traçado, resultando em impactos diretos em Estâncias Imperiais.
Alterações no traçado e suas consequências
Valdir Carlos Pontes, representante da Comissão Nascentes Imperiais, alerta que o novo trajeto comprometerá as duas comunidades. Os moradores do Estâncias Imperiais perderão suas residências, enquanto o Rodoanel dividirá o Bairro Nascentes Imperiais, dificultando o acesso a serviços essenciais.
A visita técnica também incluiu o Bairro Sapucaias, que será afetado pela construção de uma alça de acesso. Moradores reclamam da poluição gerada pela pedreira local, que já causa problemas respiratórios. A insegurança aumentará com a construção do Rodoanel, segundo a vereadora de Contagem, Moara Saboia.
Denúncias de assédio por parte da BHR
Durante a visita, moradores contaram que, desde março, representantes da empresa BHR – contratada para intermediar o diálogo no processo de construção do Rodoanel – os têm abordado. Fabiana Duarte Ribeiro, moradora afetada, contou que a BHR coletou dados pessoais e impediu melhorias nas propriedades sob ameaça de não receber indenização no futuro.
A deputada Bella Gonçalves, presidenta da Comissão de Direitos Humanos, afirmou que o que está ocorrendo com os moradores configura um estado de “terrorismo psicológico”. Ela reforçou que a coleta de dados só pode acontecer após a emissão da licença para instalação do empreendimento e que riscos enfrentados pelos moradores não devem ser ignorados.
Licenciamento e impactos ambientais
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) já emitiu uma licença prévia ambiental controversa, questionada em audiência pública na ALMG. Bella Gonçalves argumentou que essa licença não é válida, pois depende da anuência de diversos órgãos, incluindo a Prefeitura de Contagem e o Incra.
A Prefeitura, segundo Francisco Naldo de Assis Silva Filho, administrador regional, é contra o traçado proposto. As preocupações incluem não só os impactos sociais, mas também ambientais, especialmente devido à proximidade do novo traçado da represa Várzea das Flores, onde há risco de poluição e derramamento de óleo.
Perspectivas futuras
Mora Saboia solicitou uma audiência pública com a presença de representantes dos órgãos responsáveis para tratar essas questões. Além disso, a equipe gestora do Plano Diretor de Contagem planeja criar áreas de preservação ao longo da futura rodovia, visando proteger as nascentes da região.
Uma nova audiência para discutir esses tópicos deverá ocorrer em agosto, com a participação de secretários estaduais e outras autoridades. A população continua atenta às ações sociais e ambientais do projeto do Rodoanel e suas consequências para a comunidade.
A situação de Contagem exemplifica os dilemas enfrentados por moradores que lidam com grandes projetos de infraestrutura, reforçando a necessidade de diálogo e respeito às suas necessidades e direitos.